sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Solidão

Outrora por ti fui cativada,
Sonhei que para ti única seria
Mas, hoje fugiste numa só badalada
E eu derramei esta lágrima sombria.
A solidão em meu rosto cintilou,
Ouvi em redor um silêncio ausente
Que em minha alma se fortificou
E deixou um vazio omnipresente.
Deixei-me levar em teu encanto,
Como uma princesa fui eu amada,
A nossa paixão sobreviveu no entanto
E em teu reino ficou no tempo parada.
O vento corre dilacerando meu coração
E eu, impetuosamente, estou só,
Sozinha entre a abafante multidão,
Apenas trago lembranças deste nosso nó.
Já nem me abrigo mais em teu abraço,
Nem me encontro mais em teu olhar,
Ah meu amor! Já nem sei que sonho traço,
Somente queria contigo lado a lado caminhar.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Anoitecer

Por entre essas ruelas, ao cair da noite,
embrenho-me em memórias do nosso passado
e, então, recordo-o outrora apaixonado
com desejo que entre nós se acoite,

E de mim se apodera um sentimento:
tal melancolia, que triste saudade,
ah! como anseio dentro de mim liberdade
que perdera neste nosso amor turbulento

E como se de ti me quisesse largar,
de novo roubas-me docemente a razão
e eu, inocente, entrego-me à tua prisão
como se fosse o meu primeiro amar.

A chuva guia a sombra da noite consigo,
e vai recaindo sobre mim um trémulo medo
de regressar a um passado sombrio tão cedo
e enfraquecer a força que vivera comigo;

Deambulando continuo sem destino a alcançar,
acredita, meu amor, que cada lágrima derramada,
tornar-se-á ferida no teu coração espetada
que somente a minha força poderá sarar.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Assim somos nós

tu e eu,
assim somos nós,
resultado de uma antiga paixão
somos velhos companheiros
de uma antiga guerra,
assim somos nós,
o coração?
esse, há muito amadureceu
e já nem sequer nos pertence
voou e tomou o seu rumo
de certo para bem longe,
assim somos nós,
perdidos num passado só nosso
o futuro?
desse muito espero e duvido
haverá ao menos um amanhã?
assim somos nós,
palavras no tempo largadas
olhares que se cruzam friamente
promessas há muito esquecidas
lábios que já mais se tocaram,
assim somos nós,
parte um do outro
afinal quem ama não esquece
e o que nós vivemos?
fez-se porto de abrigo,
assim somos nós,
para que sofrer?
se existe um nós inexistente
não sou eu que vou temé-lo
afinal, somos eu e tu

terça-feira, 8 de abril de 2008

Uma lembrança. Uma perfeição

palavras e recordações
sentidas emoções
silenciosas e melodiosas
desinterressadas e atensiosas
são apenas lembranças
que se movem numa saudosa dança
que me fazem sorrir e chorar
e a um passado perfeito voltar
.
tudo o que existiu foi loucura:
uma tela e uma caixa de pintura
o meu passado foi desenhado
por uma só linha traçado
às cores devo a saudade
aos pincéis a liberdade
ao desenho traçado meu caminho
e ao todo o meu carinho
.
voltar à minha perfeição
sarar feridas do meu coração
viver o que há muito perdi
momentos importantes para mim
um turbilhão. um sentimento
há muito que a saudade lamento
e querer por mais um dia sonhar
é sentir o meu passado a voltar

Amor para recordar

Olhámos fixamente um para o outro, esquecemos de tudo o resto por momentos, começámo-nos a aproximar à medida que as lágrimas caiam pelos nossos rostos, a cada passo que dava o meu coração palpitava, e a cada olhar que trocávamos a minha alma renovava-se. Estávamos ali, um diante o outro, naquela manhã quente de agosto, como no primeiro dia em que nos beijámos. Demos as mãos e ficámos a olhar um para o outro, nesse momento a minha alma tinha voltado a estar comigo. O tempo foi passando e nós ali, alheios a tudo e a todos, por fim beijámo-nos, um beijo tão puro como o primeiro.
A paz que sentia naquele momento terminou, repentinamente, quando nos meus ouvidos soou um som de um tiro, voltei a realidade, mas agora esta estava radicalmente diferente. Os seus lábios estavam gelados e as nossas bocas foram-se separando lentamente até não sentir mais o seu corpo no meu, e novamente Erik caiu no chão, violentamente, como na última vez que estivemos juntos, mas desta vez era irreversivel.
Ali estava, estendido no chão, a escorrer sangue com a minha mão junto ao seu coração, as lágrimas que anteriormente eram de alegria agora tinham sido camufladas em lágrimas de dor. Novamente fui levada para bem longe dele, agarraram-me como quem leva um animal após ser sacrificado, era assim que me sentia, após tanta dor que vivi neste campo de concentração, esta tinha sido a minha última facada. Olhei para trás vezes sem conta mas a luz no sol reflectia-se no corpo de Erik, e eu era impossibilitada de o ver, apenas sentia o nosso amor, recordando-o: lembraças de um passado perfeito.
(Passagem retirada de um livro que escrivi: "Estratos do Diário de Judy", que tem como tema o holocausto. A história conta a vida de uma rapariga que sobriviveu aos campos de concentração, mas que perdeu todas as pessoas que amava, incluindo o namorado Erik que era alemão, que se passou por judeu para estar ao lado de Judy)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sentimento baloiçante

Senti o sabor do vento nos meus lábios, o nevoeiro ofuscava-me a visão daquela paisagem que me era familiar, o frio de Inverno era-me indiferente, não o sentia, apenas me sentia sem forças para continuar. A música ia tocando e os meus olhos foram-se fechando, a sensação daquele vento fazia-me regredir à minha infância. Revivi, senti e recordei momentos, como se nunca os tivesse perdido. A paz e a calma que iam na minha alma foram-se transmitindo para o meu corpo baloiçante, que a cada minuto se elevava mais alto.